Rota 173

Localizado em um complexo demográfico rodeado de montanhas e ruas calçadas por paralelepípedos provenientes de suas próprias pedreiras. Tem ouro no nome, mas pode crê é ouro de tolo. Esse blog foi criado para que os integrantes do Clã Rota 173,no qual tem como objetivos frequentar eventos e festivais de rock'n roll; fazer viagens com foco em diversão; observar os transeuntes e incorporar bordões; postar seus textos, fotos,vídeos, e quaisquer outras "bestages" que estiverem a fim.

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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Na carta um amor incompreendido.

Bão, vo contar pro cêis um causo que num intendi. Escrivi uma carta mai num recebi uma resposta. Na verdade verdadera memo quem escreveu foi meu primo Aderbal fio de minha madrinha Marieta. Escoí ele porquê é o único dotô na famia, ai fui falando i ele escreveno tudin. Ficô que uma belezura de carta. E ôia que eu nem tinha salgado o galo, porquê se não eu ia é emendar os bigodes aqui na minha biboca. Mai só num intendo de num te resposta, ficando assim vai acabar no caritó. Ôia a carta ai:

De: Roberval do Tião Porteira

Para: Francisca da Conceição

“ Meu amor:

Você faz parte da minha existência, é como as minhas pedras nos rins, e que com muito esforço consigo expelir umas em forma de coração.

Sabe aquele frio de inverno, e mesmo assim tenho que ir para o curral, para o retiro de leite, às 5 da manhã. Meu único calçado é um sapatão velho, com a sola gasta, e o que é pior: ele é dois números menores que meu pé, o que faz doer ainda mais minha unha encravada. Aquele frio que congela até o muco nasal. Vejo as vacas que acabam de defecar, não resisto ao ver aquelas fezes soltando fumaça de tanto calor, tiro meu velho calçado, assim mergulhando meus pés, o que aquece meu corpo. Estou lhe contando isso meu amor, porque para mim você é como o calor das fezes de vaca que aquece aos meus pés.

Aquele dinheiro que ganhei vendendo o que colhi de minha plantação de inhame, usei para comprar lindas flores, iguais àquelas que as mulheres carregam na semana santa. E essas flores são para ti. Meu amor.

Lembra daquela torneira, do tanque de lavar roupa, que estava estragada? Pois então, em vez de consertar, resolvi serrar a ponta e fazer uma bela aliança de compromisso. E até colei com cola tenaz uma pedrinha em forma de coração. E fiz tudo isso por amor.

E se você acha q não sei o que é amar, esta muito enganada, pois vou lhe dizer o que é amor:

O amor é dedicar à alguém, mais do que você dedica a sua cerca que todo ano tem que trocar o arame enferrujado.

É você dar carinho a uma pessoa, mais do que você da ao seu cachorro perdigueiro que pegou sarna e tem que banha-lo todos os dias.

É ser cavalheiro, puxar a cadeira para ela sentar, evitando que se machuque com a farpa da perna da mesa. Estender a mão para ajudá-la a descer da charrete, e em dias de chuva carregá-la no colo, para não se sujar no barro e ter que tomar banho novamente. Se propor à fazer a janta quando ela esta cansada, tomando conta da cozinha, preparando um delicioso cozido ou um virado-de-banana.

É ter uma noite romântica sentados no terreiro do fundo da casa, olhando para as estrelas, admirando o brilho da lua-cheia. E escutar umas modas de viola caipira no radio à pilha, que foi comprado na barraquinha de eletrônicos da quermesse da festa da padroeira.

Amar alguém é querer passar mais tempo ao seu lado, do que passo com meu canivete e a palha de fumo.

E com essa definição de amor que me declaro para ti, e termino esta epístola lhe dizendo: amo-te!"

(N. do E.): Caro leitor, a interpretação deste texto pode ser vista com preconceito, maldade, mas a tentativa é de mostrar um homem simples do campo, no qual descobre o amor em pequenos fatos, a sua humildade pode ser alvo de anedotas, mas seus sentimentos são puramente verdadeiros e que talvez por vaidade o leitor deixe de perceber.

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