Começo meu relato com um verso de uma canção popular:
“Quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração”- é que o amor às vezes nos prega peça que nos deixa perplexos como na história que contarei:
O nosso herói quase não dormia à noite, acordava quase sempre quando o sol já estava a pino. Noites em claro, passava as madrugadas entre um Intercine e um corujão. Entristecia-se sempre que assistia uma comédia romântica, pois ele se sentia na pele do galã que passava o tempo todo atrás da gostosa do filme e no final sempre conseguia. A tristeza do nosso herói dava-se por conta de que uma história daquelas nunca iria acontecer com ele, pois como em toda comédia romântica o galã sempre conquista a moça fujona em um aeroporto e como na cidade do nosso protagonista não tem aeroporto ele via o sonho de conquistar a amada impossível, não é que ele levava o cinema assim tão a sério, mas num aeroporto tudo parece ser mais fácil.
Todos os dias o nosso paladino do amor chegava ao trabalho às duas e meia em ponto. Ele trabalhava em uma cantina no centro da cidade onde recebia ali todo o tipo de gente; camponeses, funcionários das fábricas, estudantes, alcoólatras, viajantes, doidos, chatos ( isso era o que mais tinha)... por fim uma infinidade de pessoas.
Num triste dia em que o sol se escondia entre os nimbos e uma rala e fria chuva caía devagar, o nosso herói lia um livro de um autor desconhecido atrás de seu balcão. O dia estava tedioso, mas ele nem se importava com isso, não havia nenhum cliente ali, e ele se concentrava naquela leitura do autor desconhecido. De súbito entra no estabelecimento uma jovem de longos cabelos, corpo bem feito, de fartos seios e de um largo sorriso nos lábios. O jovem rapaz por detrás do balcão não podia acreditar; é ela... é ela...
Quase sem soltar a voz pergunta à moça, gaguejando:
-A se...se.. senhorita de..de..deseja alguma coisa?
-Sim – disse ela com um brando sorriso – você poderia me informar a que horas abre o escritório aqui da frente?
-Geralmente ele fecha ás cinco, mas amanhã abrirá ás oito da manhã. - disse ele com cara de bobo.
-Tá bem, amanhã eu volto então. Me dá um chiclets ? - e saiu batendo os cabelos encharcados num andar meio desajeitado.
Ela se foi e o rapaz ficou com cara de bobo atrás do balcão.
O protagonista de nossa história criava mil maneiras de tentar ao menos puxar conversa com a amada que voltaria no dia seguinte. Mas ele só entraria no trabalho á tarde, como poderia encontrar com ela de novo? Naquela noite ele foi dormir mais cedo sacrificando suas horas na internet e suas sessões madrugais de intercine e corujão (I e II ). Alarmou o relógio para as sete da manhã e se entregou aos seus oníferos momentos. Quando o relógio despertou ele abriu o zóinho debaixo do cobertor e perguntou a si mesmo: “Será que ela vale todo esse sacrifício?... pensou naqueles melões e concluiu... SIM... VALE!!!
O sino da matriz denunciava as horas: Já era quase oito (o relógio da igreja está sempre atrasado) e ele estava sentado na praça fingindo ler alguma coisa, mas seus olhos caçavam a sua Vênus por todos os lados. Havia passado algum tempo e ele imóvel naquele banco, as pernas cruzadas, livro aberto no colo apenas os seus olhos se movimentavam. O vai e vem das pessoas o desesperava, nenhum rosto daqueles lhe interessavam, somente o rosto dela... somente ela...
Ele nem percebeu quando a garota chegou ao escritório, continuou imóvel e notou que muito tempo já havia passado. Pensou em ir embora, mas resolveu tomar alguma coisa na cantina onde trabalhava. O seu colega de trabalho espantou-se ao vê-lo àquela hora na rua:
– Você?!! Por aqui uma hora dessas? - Perguntou o amigo.
– Pois é... estou resolvendo um problema aí... - disse meio desanimado.
Levou um gole de Jotaefe na boca e pensou; “seria bom contar tudo ao meu amigo, talvez ele possa me ajudar.”
-Sabe o que é João? Há dias que eu estou meio que gostando de uma menina aí! - Disse ele meio constrangido.
-Ah! Ainda bem que é uma menina, pior que se fosse um menino... huá..huá...- comentou João.
O nosso herói fez uma cara de sarcasmo... João era o único que ria das próprias piadas sem graça.
-Cara, tô falando sério... o pior é que ela veio aqui ontem e eu nem falei nada pra ela fiquei meio sem graça, sabe... sem saber o que fazer.
– E quem é essa gatinha? Eu conheço?
– Não sei... ela é nova por aqui e parece ser gente de grana... eu não tenho nenhuma chance. Sou apenas um rapaz que trabalha atrás de um balcão. Ela nunca vai me dar bola!
– Vixe, deixa disso cumpadi, assim você está me menosprezando também... Lembra daquela vez que namorei uma ricaça? Ela tinha grana. Eu só ia em shows na ala VIP e ela bancava tudo.
– Tá bom...tá bom. Eu lembro só que ela era uma coroa de 55 anos!
– Ora, isso são detalhes...detalhes...
– Tá! Acontece que ela vem no escritório do Johnny hoje e eu vim aqui pra ver se a encontro.
– E ainda não a viu?
– Não... peraí.. olha lá na porta do escritório... é ela... é ela...
– Caramba mano, maior gata... vai lá véio! E se você precisar de mais tempo eu cubro seu turno... vaaaiii!!
João apesar de ser meio sem graça em suas piadas e não muito inteligente, era um grande amigo, capaz de fazer qualquer gesto altruísta para ajudar o companheiro de balcão.
Tropeçando em meio aos paralelepípedos desnivelados das calçadas lá ia o nosso herói rumo à grande batalha. Quando chegou perto da garota de cabelos longos e seios fartos estremeceu, mas escaparam pela sua boca algumas palavras:
– Oi!! E ae?!! - disse com o rosto corado de vergonha.
– Oi!! - respondeu a menina meio ressabiada.
– Então... né?!!! - falou o nosso guerreiro tentando criar um clima.
– Ah... me lembro de você! Você trabalha na cantina do outro lado. Ué? Não tá trabalhando hoje?
– É que... que hoje é o meu dia de folga. - Respondeu pensando na proposta de joão. Teria o dia livre.
– Opa! Legal! Eu sou nova por aqui. Você não gostaria de me mostrar a cidade?
– Certo... pode ser, mas eu não tenho carro e...
– Ora - interrompeu a menina- Eu quero conhecer a cidade a pé, afinal ela não é muito grande né? - Falou isso com uma leve risada.
– Ok!! Então tá!!
E saíram os dois pelas calçadas de paralelepípedos desnivelados.
Em uma pracinha que situava-se no final da Avenida Central, o belo casal se beijava sob o ardente sol de janeiro. Mas o nosso herói ainda não se conformava com tudo aquilo e resolveu perguntar à garota porque ela se mudara para aquela pequena e pacata cidade:
– Ora … Meu foi pai transferido. Ele vai trabalhar no balcão dos Correios daqui. Ah, e eu também já arrumei um serviço, vou trabalhar como balconista de uma loja de presentes.
– Ah, tá!- interjeicionou o nosso herói com uma cara de bobo.
Guido Carmo 12/03/2011
Esta é a minha 1ª postagem neste blog, escrevi um pequeno conto em homenagem a um amigo.
Espero que gostem, está aberto a comentários.
Até a próxima postagem!!!!
Rota 173
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É, mas no conto o protagonista se deu bem!!!
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirEstarei sempre aqui, sou sua fã agora hehe.
Beijos querido.
hehehe... abriu o zói divagarzim.. e disse... dauvim..hehehe
ResponderExcluirserá o rapaz por detrás do balcão o enviado???...hehehehe.... da um goliquinho... ae...hehehehe
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